Sobre o DialONGando
As Organizações Não-Governamentais surgiram como entidades com fins públicos apesar de pertencerem à esfera privada, à qual eram destinados recursos públicos que buscavam o desenvolvimento da comunidade. Esse termo foi utilizado pela primeira vez na Organização das Nações Unidas (ONU), em 1940 (GOHN, 2003). No Brasil, o surgimento dessas organizações data de meados dos anos de 1970, período que foi marcado principalmente por restrições político-partidárias impostas pela ditadura militar da época (BRASIL, 2001). A ausência de instituições democráticas marcou o caráter contestatória das ONGs, as quais, então, atuavam em parceria com os movimentos sociais. Mas, o crescimento quantitativo dessas organizações está fortemente vinculado a outro momento histórico, qual seja, a crise do capital dos anos 1980, quando medidas de reformas administrativas foram tomadas com a justificativa de modernizar o processo decisório do Estado (BRESSER-PEREIRA, 2003). É importante pensar, no entanto, que desde o processo de redemocratização o perfil das ONGs, assim como do Estado, sofreu alterações. Evelina Dagnino (2004), a partir da noção de confluência perversa, indica como as demandas por maior participação da sociedade civil confluíram com o discurso neoliberal de Estado mínimo. Nesse contexto, a função pública e privada passa por redefinições, incorporando ideais como público não-estatal, bem como outras noções que apontavam para novas relações entre Estado e sociedade civil. Dadas essas mudanças, pensamos ser fundamental dar continuidade ao projeto de extensão “DialONGando”. O projeto se propôs a estabelecer canais de comunicação entre a universidade as ONGs, destacando o voluntariado. Cabe, nesse momento, no entanto, estabelecer o diálogo atentado para algumas novas dimensões, tais como: a) as relações entre ONGs e movimentos sociais; b) os trabalhos desenvolvidos com a comunidade; c) e o tipo de parceria estabelecida com o Estado. Cabe-nos, assim, mapear e entender o trabalho desempenhado, as dificuldades enfrentadas, a relação com o voluntariado, atentando especialmente para a percepção que as organizações e seus integrantes têm das suas próprias funções.
"Eu não acredito em caridade, eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima pra baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas."
Objetivo:
O projeto “DialONGando: dialogando com as ONGs no município de Varginha/MG” tem como principal objetivo realizar uma aproximação entre a universidade, a comunidade e as organizações não governamentais no município. Pretendemos com o projeto, que os alunos possam conhecer mais a realidade do terceiro setor e ainda desenvolver um pensamento crítico sobre ele, além de estarem em contato direto com as práticas sociais. Ainda é importante que possamos entender qual o real papel dessas organizações dentro da sociedade, qual a função dos voluntários nessas instituições, e ainda ajudar a transformar as ações em melhorias para o atendimento das ONG’s à comunidade.


Metodologia:
Como este projeto de extensão constitui-se na renovação de uma ação já iniciada, a metodologia anterior continuará fazendo parte desta fase. Por outro lado, a pesquisa-ação integrará o projeto como um todo, tendo em vista que se constitui num “instrumento de ‘intervenção’ na realidade circundante dos pesquisadores, em parceria com os atores implicados em determinadas situações problemáticas” (DIONNE, 2007. p, 11). Assim, projeto seguirá as seguintes etapas: a) atualização do mapeamento das ONGs do município; b) desenvolvimento de atividades conjuntas com essas organizações (tais como palestras e oficinas); c) o desenvolvimento de uma reflexão crítica sobre a própria atuação, seu papel social e político; d) a criação de grupos de estudos que permitam a análise da literatura sobre terceiro setor e os embates que permeiam as relações entre Estado e sociedade – como a desobrigação social do Estado e a reconfiguração do domínio público. Para Freire (1987), a relação entre aprendizado e o ensino pressupõe o respeito ao saber local na construção de novos conhecimentos. Segundo Dionne (2007), pesquisadores e atores estabelecem uma relação efetivamente mais estreita ao tomar posições e esboçar ideias e também no momento em que se assumem como participantes práticos. A pesquisa bibliográfica permeará todo o projeto, bem como agregada a ela, estará presente a pesquisa e intervenção no campo, promovendo a formação conjunta da equipe e organizações, de acordo com os princípios da pesquisa-ação. Portanto, ao construir soluções conjuntas para o atendimento das demandas de formação, a reflexão e elaboração teórica sobre a temática também estará presente.